Conheça as propostas dos "Escritores Cool" do ensino secundário para este segundo desafio, subordinado ao tema "Não tenho nada para fazer! E agora?" e vote nos seus favoritos!
Nota: os trabalhos são publicados por ordem de chegada. Aconselha-se a utilização do Google Chrome para uma visualização adequada de todos os trabalhos.
1º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Inês Franco
2º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Margarida Santos, Mariana Rosa, Soraia Patricio
3º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Ricardo Mascate
4º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Ana Fernandes e Margarida Soares
5º TRABALHO | AE Bonfim - 12º ano - Cristina Cargaleiro
6º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Débora Sousa e Diana Serrano
7º TRABALHO | AE Constância - 12º ano - Helena Santos, Guilherme Soares, Tomás Pedro
Os trabalhos aqui apresentados revelam uma grande diversidade no conteúdo e na forma.
Conheça as propostas dos "Escritores Cool" do 3º ciclo para este segundo desafio, subordinado ao tema "Não tenho nada para fazer! E agora?" e vote nos seus favoritos!
Nota: os trabalhos são publicados por ordem de chegada. Aconselha-se a utilização do Google Chrome para uma visualização adequada de todos os trabalhos.
1º TRABALHO | AE Bonfim - 8º ano - Celeste Rebeca e Tomás Marques
2º TRABALHO | AE Castelo de Vide - 9º ano - Leonor Antunes
3º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Amadeu António
4º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Guilherme Matos e Leonor Pereira
5º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Gustavo Marques
6º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Martim Matos e Rafael Rei
7º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Soykan Petrov e Francisco Oliveira
8º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - João Artur Pinto Patrão Martins
9º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Mafalda Parente, Carolina Loureiro, Maria Beatriz Pires
10º TRABALHO | AE Gavião - 9º ano - Ângelo Matos
11º TRABALHO | AE Mação - 9º ano - Tomás Pereira
12º TRABALHO | AE Marvão - 7º ano - Andreia Mimoso, António Batista, Daniela Serra e Sofia Marques Fé
13º TRABALHO | Escola Secundária da Portela - 9º ano - Maria Saldanha
14º TRABALHO | Escola Secundária da Portela - 9ºano - André Gonçalves
15º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Beatriz Vieira
16º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Bernardo Renga
17º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Daniela Batista
18º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Inês Mata
19º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Joana Feiteirona
20º TRABALHO | Agrupamento José Régio - 8º ano - Mariana Pereira
21º TRABALHO | Agrupamento de Mora - 7º ano - Ema Ramalhão
22º TRABALHO | Agrupamento nº 2 de Abrantes - 9º ano - Beatriz Grácio
Bibliotecas Cool tem a honra de dar a conhecer os vencedores do 1º Desafio do Ensino Secundário, da edição de 2020/2021, do concurso de escrita "Ser Escritor é Cool". Tivemos um total de 1508 votos do público e o júri teve uma árdua tarefa.
Parabéns a todos os jovens escritores que nos enviaram os seus textos.
Divulgamos os vencedores deste 1º desafio, subordinado ao tema "Não tenho nada para fazer! E agora?" e os seus textos.
1º LUGAR - Inês Franco, Agrupamento de Escolas de Constância
O livro que tinha sentimentos
Cá estou eu, mais um dia nesta estante, sem ninguém me escolher e ler os lindos romances que tenho dentro de mim. Será que é o meu aspeto? Ou será que os meus lindos romances não são tão bonitos como eu penso? Será que é o meu autor, que não é conhecido o suficiente? Ou será que simplesmente as pessoas perderam o interesse nos livros?
Já lá vai a altura em que alguém pegava em mim e me folheava. Já lá vai a altura em que alguém sentia as palavras que em mim estão escritas. Mas não sou só eu que não sou escolhido, todos os livros nesta biblioteca raramente são abertos. Era como se a cada dia que passasse as pessoas dessem cada vez menos valor à leitura, aos sentimentos e à aprendizagem. Era como se os livros não existissem.
Cada vez que ouvia a porta da biblioteca bater, ou mesmo quando ouvia pessoas a passar pelo corredor dos livros de romance, começava a sentir me ansioso, será que era desta vez que ia ser escolhido? Mas não, nunca era. Será que é por estar numa estante muito alta? Será que é por aquele corredor não ter luz suficiente? Será que esta biblioteca não era assim tão conhecida? Ou será que não sou bom o suficiente para ser lido? Estas eram as perguntas que fazia, mas, no fundo, sabia que nunca iria obter uma resposta, pois não passo de um mero livro.
Chegou a uma altura em que perdi a esperança e limitei-me a ser um livro, a não fazer perguntas, a não estar ansioso de cada vez que alguém entrava naquela biblioteca. E foi precisamente nessa altura que fui escolhido e, quem diria que seria escolhido por duas pessoas? Um rapaz e uma rapariga.
- Desculpa, podes ficar com ele, eu vejo se há outro exemplar- disse o rapaz para a rapariga.
Intrigou-me o que o rapaz disse. Como assim, outro igual a mim?! Será que há outro igual a mim que é mais lido do que eu só por estar noutro lugar?
-Não há outro. – respondeu a rapariga - Quando cheguei perguntei à bibliotecária e ela disseme que só existia este livro.
- A sério? Precisava tanto de ler esse livro para um trabalho de português e não o encontro em lado nenhum- disse o rapaz com uma voz desanimada.
2º LUGAR - Cristina Cargaleiro, Agrupamento de Escolas de Bonfim
O livro tem o fim à vista? E a leitura?
Quando leio, não leio apenas, ofereço-me a um novo mundo que se abre diante de mim e me absorve e que mesmo não sendo meu, entrelaça-se com suavidade por entre cada futura emoção ou sentimento que a partir daí sentirei. Este costuma ser aquele momento em que as pessoas que me estão a ouvir perguntam «Então e quando terminares o livro? O que acontece nesse momento?» Às pessoas que estão com pressa costumo responder apenas «Nesse momento começo a ler um novo livro», apesar de raramente o começar instantâneamente. Depois de ler o livro, disfruto a sua leitura...
Todos os leitores experientes enquanto leem, conseguem por defeito ou por excesso estimar o tempo que dedicarão a ler o livro do momento. Todos os livros têm o fim à vista! Mesmo quando não acabamos de o ler. Os livros são editados para serem terminados, esta é uma regra da realidade contra a qual não podemos lutar.
Gosto de pensar que os livros finalizam mas a leitura se eterniza. Espero não ser a única a pensar assim mas se for, creio que vou ter de aprender a viver com isso porque a essência da pessoa que somos é mais uma realidade contra a qual não podemos lutar (nem devemos). Não é (nem jamais será) o conteúdo do livro que perdura (talvez até sim de certo modo porque os museus dispõem de métodos de conservação cada vez melhores) mas sim a leitura que fazemos dele. Aquela breve e simultâneamente longa interpretação que fazemos deles, aquelas palavras inocentes, infantis e vazias que nós vamos enchendo com significados, emoções e pensamentos ao longo da nossa breve, passageira e repleta vida.
Relembro enevoadamente a história d’O livro que só queria ser lido de José Jorge Letria. Foi o primeiro livro que li. Antes disso lia a ouvir a minha mãe ler para mim e às vezes nem era para mim, mas não é por isso que esse momento tenha de deixar de ser meu. Estando o livro em Português, uma língua que eu bem conheço, entendi-o perfeitamente no meu intelecto. À medida que o meu coração vai amdurecendo, cada vez me sinto mais como esse livro. Sei que um dia terei um fim e talvez um dia algum brilhante cientista me consiga dizer até o segundo em que ao jardim das tabuletas me irei juntar no entanto, tenho mais de entre o âmago de mim para cá deixar. Porque cada um de nós é também um livro que está a ser lido e apesar de nós sermos simples passageiros seguindo o direito fio desta torta existência, deixaremos cá a nossa leitura, para ser reeditada e relida pelos nossos leitores que gostaram de nós.
Espero (e mesmo que anteriormente não, estou certa que nesta esperança encontrarei mais seguidores), espero que a minha leitura nunca tenha um fim à vista nem a de nenhum dos livros-pessoas que li e ainda (à minha maneira pessoal, única e original)lerei. E não se esqueçam, a maneira como leem os outros, define em muito a maneira como serão lidos neste suave ou repleto e breve ou longínquo futuro.
Escrito a 5/11/2020, começado não sei quando e terminado às 13:15:38 (isto inclui a finalização da redação do vocábulo terminado).
3º LUGAR - Ana Fernandes e Margarida Soares, Agrupamento de Escolas de Constância
O enigma do livro abandonado
Numa tarde soalheira de verão a Penélope combinou com os amigos ir a um café em Lisboa, mas antes, tinha de ir buscar a sua amiga Beatriz a casa.
Pelo caminho, encontraram algo de estranho.
- O que é que está em cima daquele banco?- questionou Penélope.
-Não sei, vamos descobrir. – respondeu Beatriz.
-Um livro abandonado. Isto é algo fora do comum...
Intrigadas com aquilo, decidiram levar o livro com elas. Já no café, partilharam com os amigos o que tinha acontecido.
Passado algum tempo, foram todos para casa. No entanto, a Beatriz foi para a da Penélope para resolver o enigma do livro abandonado. Ao mexerem nele, repararam que na contracapa existia um número e um código QR. Esse código encaminhou-as para um site onde pessoas de vários sítios davam a sua opinião sobre a obra, descobrindo também que se tratava de Bookcrossing. Ao lerem os comentários, aperceberam-se que o livro abordava um romance e uma vez que as críticas eram bastante positivas, ficaram interessadas em lê-lo. Ambas combinaram que no dia seguinte iriam para o jardim ler o romance.
Uma semana depois, as raparigas acabaram de ler o livro.
- O que fazemos agora?- perguntou Beatriz a Penélope.
- E que tal darmos a nossa opinião sobre a leitura no site e partilhamos com os nossos colegas este conceito de deixar os livros em sítios públicos e recomendarmos a leitura dos mesmos?
- Sim, vamos convidá-los para virem cá ter a casa para falarmos sobre este assunto.
Ao chegarem, a Penélope explicou que deixar livros em sítios com muita gente era uma prática adquirida pelas pessoas com a intenção de transformar o mundo inteiro numa biblioteca, ao mesmo tempo que se promovia a leitura.
- Mas assim os livros não se estragam?- questionou um dos
- Não. – respondeu a Penélope- Pelo contrário, assim permite que um maior número de pessoas possa ler o livro em vez de os colocar numa estante a ganharem pó.
- Eu que não era muito dada à leitura, ganhei vontade de começar a ler mais e diferentes géneros literários.- admitiu a Beatriz.
- E o que acharam da leitura?
- Eu gostei muito do livro!- respondeu Penélope entusiasmada.- Ao ler um pouco vamos ficando cada vez mais presos à história e com vontade de ler mais e mais. Para além disso, obra tinha vocabulário acessível para jovens, o que torna a leitura mais fácil.
-Por mim continuamos com este conceito e deixamos o livro num outro local.- afirmou Beatriz.
-Acho que fazem bem. Vou pesquisar mais sobre o Bookcrossing pois pareceu-
-me interessante.- disse o colega, curioso e entusiasmado.
Mais tarde, as duas foram deixar o livro a uma paragem de autocarro perto da escola e a Penélope disse:
-O Bookcrossing leva-me a pensar que os livros não têm um fim à vista porque depois cada pessoa acabar a leitura, pode dar continuidade à história consoante a sua imaginação.
Após desta aventura, ambas passaram a ler com mais frequência e os amigos, influenciados por elas, também introduziram a leitura no seu dia a dia.
Bibliotecas Cool tem a honra de dar a conhecer os vencedores do 1º Desafio do 3º ciclo, da edição de 2020/2021 do concurso de Escrita "Ser Escritor é Cool". Tivemos um total de 3182 votos do público e o júri teve uma árdua tarefa.
Parabéns a todos os jovens escritores que nos enviaram os seus textos.
Divulgamos os vencedores deste 1º desafio, subordinado ao tema "Não tenho nada para fazer! E agora?" e os seus textos.
1ºlugar - Beatriz Grácio, Agrupamento de Escolas nº2 de Abrantes
Capítulo I: Chegaste
Eram sete. Sexta-feira, dez de novembro, às sete da tarde. E assim que a hora passou, das seis e cinquenta e nove às sete, o reboliço começou instantaneamente, o reboliço do qual me queria manter o mais longe possível. E quando me quero manter afastado das coisas, vou para outro lado. A melhor forma de ir para outro lado é ler; como tal, quando vi que eram seis (que as viagens para outros universos demoram sempre um bocado, como sabes), desliguei a televisão, fechei as janelas e tranquei-me no escritório a ler. E assim passei o tempo até às seis e cinquenta, quando a tua avó Aline me mandou ir para a sala, para te receber quando chegasses. Tu sabes que eu sou teimoso, mas oiço a avó Aline. Sou teimoso e não há nada que cure esta doença horrível! E tu bem sabes, que a herdaste também… Assim, fui para a sala, mas não larguei O nome da Rosa, que já tinha lido carradas de vezes, mas estava a ler outra vez. Sentado no sofá, escolhi negar que a minha cabeça estava mais em ti do que no convento italiano.
Então a campainha tocou e deixei de ouvir tão bem a lareira a crepitar. A tua avó abriu a porta e estavas lá tu, se bem te lembras, encharcada da cabeça aos pés, por causa da tempestade imensa cuja trovoada ruidosa se fazia ouvir nessa noite. Percebi que a assistente falava com a tua avó, mas não consegui compreender muito do que ela disse. Só me lembro de vislumbrar uma roupa toda azul e uma voz enfadonha. Depois, a porta fechou-se e deixei de ouvir a tempestade, assim como a voz da assistente social. Foi neste momento que dei por mim, com o livro fechado, a espreitar pela porta; sentei-me no cadeirão à pressa e culpei todos estes ruídos pelo desvio da minha atenção.
A seguir, só me lembro de ouvira voz da tua avó e os vossos passos a caminhar para a sala onde eu estava.
-Catarina, cumprimenta o avô Fausto! - a tua avó faz-me sinal para que te cumprimente.
Num só segundo, em que te olhei de cima a baixo, ponderei tudo o que podia vir de ti. Para um velho carrancudo, frustrado e de mente fechada, não há ameaça pior que uma alma jovem de seis anos, com um sorriso aberto à sua frente. Pura e simplesmente, estava sem saber o que sentir e em completa apatia.
Fomos jantar. Mas antes de irmos, a tua avó disse-me uma das poucas coisas que me deixaram verdadeiramente envergonhado comigo mesmo: “Vê se controlas o teu mau feitio. Ela não é a Margarida. É uma criança. E ai de ti se descarregares nela o teu rancor!”. A seguir ao jantar, a tua avó brincava contigo, e lembro-me da explosão de cores dos teus brinquedos no tapete da sala. Eu, claro, lia. Ou pelo menos tentava ler. E, assim do nada, tu olhaste para mim (quando a avó foi arranjar o quarto de visitas para dormires) e perguntaste:
-O acidente de carro da mamã foi muito mau? Ela vai sair rápido do hospital, não vai?
Mas perguntaste isto com toda a naturalidade, o que me deixou perplexo. Sem saber o que dizer, o que pensar ou até sentir. Saber até sabia: tinha de dizer que “sim”. Mas sentir era algo que não fazia há muitos anos.
-Ela é nova.
Nova. A única característica que me ocorria para descrever a tua mãe.
-Nova? - perguntaste.
-Sim, nova. Só tem vinte e quatro anos. Teve-te aos dezoito e…
Foi aí que a tua avó entrou na sala. E o olhar que ela me dirigia era o mesmo que te lançou quando partiste a porcelana chinesa, tinhas tu aí uns dez anos. Só que com muita mais ira. Parecia que a tua avó estava prestes a engolir-me vivo, mas, felizmente, tu decidiste esquecer aquela conversa.
-Que livro é esse que tens na mão? Também gostas de ler - perguntaste, curiosa, como se eu fosse teu amigo de escola.
-Não é para a tua idade. É sobre uma igreja muito grande – respondi eu, não conseguindo pensar em mais nada a tempo.
-A mãe disse-me que tu és jornalista e escritor. Posso ler as tuas histórias?
-Não escrevo histórias - atirei eu, desta vez, sabendo logo o que responder.
-Então escreves o quê?
Aí, esqueci-me de mim. Esqueci-me de tudo, a minha cabeça escolheu não pensar em nada, naquele momento. Levantei-me e fomos até ao escritório, onde te li as crónicas que escrevi para vários jornais, e expliquei-te o que significavam. Viste que eu não contava histórias, só retratava a realidade. Sendo uma criança, é claro que ficaste um bocado desapontada, pois estavas à espera de encontrar príncipes e princesas, dragões e reinos encantados… Mas eu mostrei-te críticas ao governo. Ainda assim, não perdeste o interesse: nunca paraste de me fazer perguntas sobre isto e aquilo. Das mil e uma interrogações sobre livros, lembro-me particularmente bem de uma:
-Achas que os livros vão acabar? Dizem que, no futuro, já ninguém vai ler…
Parei, olhei-te, pensei. Cheguei à conclusão de que nunca iria achar uma resposta perfeita para as tuas perguntas, mas lá me arranjei e expus a minha sincera opinião.
-Não sei. Mas espero que não acabem. Sabes, os livros são o que nos ensina a teletransportar-nos para outros universos. Quando queremos ver outros mundos, basta agarrar-nos a um livro e estamos a viver outra vida, a ver outras pessoas e outras coisas. Nunca deixes de gostar de ler. Para mim, os livros são assim como um tesouro. Poucos são aqueles que ainda leem, mas a leitura é uma das maiores riquezas da humanidade. Um objeto destes, com a sua magia, pode levar-nos a esquecer todas as coisas à nossa volta. Se um dia os livros desaparecerem, como dizes, nunca vamos poder sair deste mundo aborrecido; e não sei onde vai parar a humanidade, presa neste mundo, sem ver outros para além deste...
Comecei a escrever, então, numa folha de papel.
-O que estás a escrever? - perguntaste.
-A anotar a tua pergunta – respondi. - Vai dar uma boa crónica.
2º lugar - Joana Feiteirona, Agrupamento de Escolas José Régio
O livro tem fim à vista? E a leitura?
O livro tem fim? É uma boa pergunta. (Poderá vir a ter, mas eu não concordo).
Cada vez existem menos pessoas a comprarem livros, por duas simples razões: ou porque os livros são muito caros ou porque não leem. Há livros bastante caros e uma pessoa que não tem possibilidades financeiras, não pode comprá-los. É um bocado injusto e é por isso que existem livros “online” que são gratuitos ao fazer-se “download” ou é mais barato que um livro “físico”.
As outras pessoas, aquelas com possibilidades financeiras para comprar um bom livro, decidem descarregá-los “online”; o que eu não acho mal, mas espero que os livros não acabem, só por serem menos vendidos.
Muita gente fica a perder se os livros acabarem. As editoras não iriam precisar de tantas pessoas para trabalhar, logo aí, haveria mais pessoas desempregadas. Há ainda pessoas, como eu, que não conseguem ficar a olhar para um ecrã muito tempo, pois faz mal à saúde; por alguma razão, as crianças usam óculos cada vez mais cedo e com maior graduação…
Com um livro eu sinto-me bem, sinto-me mais intelectual e cheirar um livro novinho em folha é algo que eu faço e não sou a única.
Gostava muito que o livro não tivesse fim. Não gostava que o meu neto fosse a um museu e visse um livro envidraçado e onde estivesse escrito: “Cuidado! Frágil! Era com este objeto que as pessoas liam até ao século XXI.”
Tenho a certeza de uma coisa: a leitura nunca irá acabar! Não pode acabar! Como seria o mundo sem a leitura? Conseguiríamos sobreviver sem a leitura? Até me faz impressão pensar nisso.
Se pensarmos bem, os homens das cavernas não liam e adaptaram-se; mas se pensarmos melhor, eles liam os desenhos e nós, como já estamos tão habituados a ler, não iríamos conseguir sobreviver sem a leitura.
Se acabassem com a leitura, provavelmente seria por existir uma melhor maneira de comunicar. Mas o que é melhor para comunicar do que as palavras? É certo que também comunicamos quando lemos uma partitura musical, com as expressões faciais das pessoas ou com uma tela cheia de cores…
Estamos constantemente a ler, porque não é só com os livros que lemos. Em qualquer lado que vemos palavras, temos sempre o impulso de ler. É inevitável. Se vemos uma palavra escrita no quadro, automaticamente lemos essa palavra, não é preciso que o professor diga: “Leiam!”
Também não é só as palavras que lemos. Quando vou a uma loja, leio os preços; quando preciso de saber quanto tempo falta para acabar aula, preciso de ler as horas; quando tenho uma ficha de Matemática, tenho de saber ler bem as equações; quando faço um bolo, tenho de ler as quantidades de cada ingrediente; quando estou na banda, lemos as partituras musicais…
- leitura está em toda a parte. É impossível escapar-lhe! É impossível tirá-la das nossas vidas!
3º lugar:
- Leonor Antunes, Agrupamento de Escolas de Castelo Vide
- André Gonçalves, Escola Secundária da Portela
Leonor Antunes, Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide
A descoberta do mundo da literatura
No tempo em que os livros eram imperadores do saber, havia uma casa que eu gostava de visitar. Era lá que a minha avó trabalhava, e eu, sempre que os senhores estavam fora, aproveitava e deambulava entre salas e salões. Ao cimo das escadas, no corredor à esquerda, estava o portal da sabedoria; não era uma sala nem um salão de festas, era um escritório, assim lhe chamavam os senhores. Eu gostava de entrar e ficar parada a observar as estantes. Eram estantes sem vaga para mais nenhuma página. Estantes sem fim, com livros sem fim. Os livros, um mais pequeno que o outro, e um maior que o outro… era um cheiro do antigo, parecia que a sua sabedoria trespassava a nossa alma. O couro desgastado mostrava a quantidade de pessoas que por lá já haviam passado. As páginas eram amarelas e grossas, as letras cada vez se viam menos. Fui andando por entre as estantes, até que vi um grande livro vermelho, com o título “O príncipe Arthur”, peguei nele e sentei-me numa mesa lá ao pé. Quando pousei o livro na mesa, soprei e de lá saíram carradas de pó. Pela largura, o livro deveria ter 100 páginas. Pensei que era uma história curta e que acabaria logo o livro, então abri-o e comecei a ler:
O príncipe Arthur
Era uma vez um grande rei que vivia numa época muito distante. A sua mulher estava prestes a ter um filho. Eles discutiam que nome iriam dar à criança e passado pouco tempo ficou decidido que, se fosse menina, seria Cristal e, se fosse menino, seria Arthur.
Haviam passado 4 dias e a rainha começava a queixar-se de dores. Uma das criadas ao ver a situação saiu do quarto a correr para informar o rei. Ele, preocupado, desatou a correr até ao quarto da rainha, no entanto, quando chegou já era demasiado tarde tinha nascido um herdeiro, mas a rainha já não pertencia a neste mundo. O rei, desalmado, debruçava-se sobre o corpo da rainha, enquanto Arthur, de tronco nu, chorava sem parar. De repente, a porta abriu-se e de lá saiu Joseph, o irmão do rei que desde novo tentava conquistar o trono. Joseph entrou no quarto seguido de vários guardas reais. O rei, confuso, perguntou o que se estava a passar. Á medida que diz estas palavras, os guardas vão matando as criadas que estavam no quarto. Até que Joseph chegou perto do rei e disse:
-Este trono é meu e nem tu nem ninguém o roubará de mim.
Joseph trespassou o rei com a sua espada e, em seguida, pegou no pequeno Arthur e mandou-o pela janela fora. Uma criada, que estava escondida atrás da porta, ao ver a cena saiu do quarto de fininho e tentou encontrar o bebé. Ela procurou, de arbusto em arbusto, até que sentiu alguma coisa a mexer-se. Foi-se aproximando... Ao desviar o arbusto, ouviu um choro e era Arthur. Pegou nele e tentou fugir pela floresta adentro, mas ao fazer isso ela foi apanhada de surpresa pelo Joseph. A criada estava a fugir descalça com um bebé nos braços e fez de tudo para fugir de Joseph que vinha montado num cavalo. Ela entrou num caminho sombrio, onde nem o cavalo se atreveria a passar. Ela sabia que não podia entrar na floresta sombria, mas teve que se arriscar para salvar o pequeno Arthur.
Dezasseis anos depois, Arthur e a sua “mãe” moram numa pequena aldeia situada ao pé de um rio. Arthur acordou cedo para celebrar o seu décimo sexto aniversário e foi ao centro da aldeia para comprar comida. Ao voltar para casa, reparou que a porta estava entreaberta e viu alguns homens lá dentro. Arthur estava prestes a entrar quando viu a sua mãe a fazer sinal com a cabeça para não entrar.
- Diga-nos onde está o rapaz e juro não lhe fazer nada de mal. – dizia friamente um dos homens.
- Eu não sei do que está a falar, eu juro! – respondeu a mãe.
O homem voltou a perguntar e ela deu a mesma resposta. Ele, parecendo já meio irritado e impaciente, fez um movimento com as mãos e um dos soldados aproximou-se dela, sacou da espada e, com um movimento brusco, matou-a.
Arthur caiu em lágrimas e saiu a correr da cena. Perguntava-se o porquê de a terem matado. Quando voltou a casa passado algum tempo, os habitantes da aldeia estavam todos a olhar para dentro da casa. Enquanto isso, algumas pessoas começaram a espalhar rumores. Dizia-se que ela era uma criada do rei, que tinha fugido com o seu filho e que o tio vinha à procura do herdeiro do trono. Arthur ao ouvir isto fugiu para o meio da floresta e começou a perguntar-se se sabia quem ele realmente era.
- Se o que eles dizem é verdade, quero encontrar os meus pais biológicos. – Pensou Arthur.
Ele andou por dois dias até chegar às redondezas do castelo. Arthur infiltrou-se numa grande cidade, coberto por um manto esfarrapado e vagueou pelas ruas à procura de um sítio para passar a noite. Mal ele sabia que os guardas do castelo faziam uma limpeza às ruas durante a noite e, quando deu por si, foi arrastado para a prisão pelos guardas.
- Ei! – gritava Arthur a bater nas grades da cela. – Porque é que me prenderam? Eu não fiz nada de mal.
- Eles perderam-te porque és estrangeiro. Quem não for nascido aqui não pode entrar. – dizia uma voz com um tom rouco. – E não vale a pena gritar, eles não te iram ouvir.
Arthur confuso com a situação sentou-se no canto da cela, mas o que o deixava mais perplexo era que ele achava a voz do homem familiar.
- Por acaso eu conheço-o? – perguntava Arthur.
- Eu creio que não, mas porquê? - Perguntava o homem.
- O senhor tem uma voz muito familiar. – Respondia Arthur.
No momento que Arthur disse isso, ele teve alguns flashbacks de quando nasceu, lembrou-se que o seu pai tinha a mesma voz que este homem. Surpreso com o seu pensamento perguntou:
- Por acaso o senhor já foi rei?
O homem, surpreso, respondeu à pergunta:
- Sim, mas como é que sabes? – ainda surpreso, fez outra pergunta. – Quantos anos tens?
Arthur respondeu que tinha completado 16 anos há dois dias atrás. O antigo rei, espantado, pensou que ele podia ser o seu filho, mas ele havia morrido há 16 anos atrás.
Na verdade, toda a gente também pensava que o rei tinha morrido, mas felizmente espada não trespassou nenhum órgão importante e, como o rei não morreu, Joseph fê-lo prisioneiro.
- Por acaso tens alguma marca de nascença no teu ombro esquerdo com o formato de uma estrela? – perguntou o rei, que se lembrava desse pequeno pormenor quando pegou no filho pela primeira e única vez.
- Sim, tenho! – respondeu Arthur.
Naquele momento, ambos perceberam que, na verdade, eram pai e filho e passaram a noite toda a conversar como tinham ido parar ali. Depois de muito tempo de conversa, os dois começaram a planear uma maneira de fugir da prisão e voltar a conquistar o que era deles.
Às nove em ponto na hora de jantar, quando o guarda entrou para deixar a comida, Arthur atacou-o e tirou-lhe as chaves. Abriu a sua cela e a de seu pai e fugiram da prisão. Como o pai do Arthur era o antigo rei e conhecia o lugar, levou-o por um túnel secreto que ia dar à sala principal do castelo. Quando chegaram, deram de caras com Joseph, o tio malvado que roubara o trono. Naquele momento, Arthur lutou uma batalha feroz contra o seu tio e acabou por ganhar.
Depois da vitória, o antigo rei corou-se a si próprio e voltou a reinar enquanto Arthur, pela primeira vez assumiu o papel de príncipe. A partir daquele dia, eles celebraram 7 dias e 7 noites com os seus súbditos.
Fechei o livro e parei para pensar.
- Afinal, a história não era assim tão curta.
Quando vemos um livro já conseguimos ver o seu fim pela largura, mas quando entramos no mundo literário é como se o livro não tivesse fim e vivemos as aventuras com as personagens.
André Gonçalves, Escola Secundária da Portela
O livro tem fim à vista? E a leitura?
Olá! A história que vos trago é sobre um rapaz. O meu melhor amigo. Longe de ser o rapaz- -modelo da nossa aldeia, Aldas. Teimoso. Brincalhão. Inocente. O nome deste rapaz é João.
Esta história começou numa manhã de sábado. Uma manhã amena de primavera.
O quarto de João enchia-se com o cantar dos pássaros e os poucos raios de sol que conseguiam entrar pelas pequenas brechas do estore.
— João! – ninguém respondeu. — João! Prevaleceu o silêncio.
—João, não ouves?!
Nem o barulho de uma mosca se ouvia. A senhora bateu à porta do quarto. Não obtendo resposta, rodou a maçaneta, empurrou a porta e, ao supervisionar o quarto, com os seus óculos redondos e enormes, deu um berro.
— João, ACORDA e arruma o teu quarto imediatamente!
João saltou rapidamente da cama ao ouvir os gritos da sua tia-avó. Levantou-se de tal forma que ao subir bateu com a cabeça na estante que havia por cima da sua cama.
— O que foi tia? É sábado!...
— O que foi? Estarei eu a ouvir bem? Foi que a tua professora ligou-me, bem cedinho, a dizer que ontem andaste à luta na escola e que o teu comportamento tem vindo a piorar dia após dia. E fica sabendo que combinei com a tua professora que ficarias com um trabalho para segunda-feira. E nem penses em fugir e ir brincar lá para fora! Vou estar a vigiar-te como um falcão!
O silêncio voltou a prevalecer como quando João estava a dormir há cerca de cinco minutos. A tia-avó olhava o sobrinho nos olhos, e já este desviava o olhar a tentar inventar uma desculpa à pressa.
— Explica-te!
— Não tive culpa! Ele é que implicou comigo!
— Terás todo o tempo do mundo para me explicar o que aconteceu, mas agora vais fazer o trabalho. Vais ter de ler um livro e segunda-feira, no início da aula, vais apresentá-lo à turma.
— O quê? Ler?!...
O clima estava tenso na casa dos Silveira. Ler era das coisas que João mais detestava, contudo a conversa entre a tia Maria e o seu sobrinho João foi interrompida por mim, mal toquei à campainha. Quem me abriu a porta foi a Sra. Maria, que explicou o sucedido e disse que este fim de semana não iria poder estar com o João como era habitual. Mas, quando ele se apercebeu que era eu que estava à porta, correu do quarto e falou por cima da tia dizendo:
— Tia, tive uma ideia. Porque é que o André não me ajuda a fazer o trabalho?
— Ora, pois claro, se bem vos conheço, vai ser o André a fazer a leitura e a preparar-te a apresentação. Não! Não! Não! Três vezes não!
Depois de muito tempo a tentar convencer a Sra. Maria, lá conseguimos aquilo que queríamos. Fiquei apenas de dar uma ajuda; o grosso do trabalho teria de ser feito pelo João. Se quebrássemos a promessa feita à Sra. Maria, eu teria de regressar a casa.
Fomos para o quarto do João e, já sozinhos, ele mostrou-me, muito insatisfeito, o livro que tinha de apresentar. A verdade é que o João odiava quase tudo o que tinha a ver com a escola, à exceção de Educação Física e dos intervalos!
Começámos a ler o livro, um capítulo cada um, em voz alta. O João, aos poucos, foi perdendo a cara de amuado e foi ficando mais satisfeito. O livro parecia ter sido feito para ele: contava várias histórias com as quais ele se identificava e foi retirando lições. Percebeu que se que tinha de empenhar mais na escola, que tinha de parar de ser o “menino das piadas” que andava sempre à luta nos intervalos.
Na verdade, não sei se estas lições serão permanentes ou simplesmente passageiras. O facto é que o João pouco precisou da minha ajuda para preparar a apresentação.
De tempos a tempos a Sra. Maria entrava no quarto para inspecionar se estávamos realmente a trabalhar e lá trazia uns bolinhos deliciosos e sumo de laranja.
Passadas umas horas de termos começado a ler o livro e de concluirmos a apresentação, aconteceu o que eu mais temia: a lição que o João tinha retirado do livro era apenas passageira, pois ele comportava-se outra vez como quem não queria saber da escola.
— Nunca mais leio um livro na minha vida – resmungou o rapaz.
— Não aprendes? Não gostaste do livro?
— Sim, mas eu gosto de ler quando não sou obrigado — respondeu ele, fazendo cara de mau, para tentar que eu desse o braço a torcer. Mas eu não cedi.
— Tu, se não fores obrigado, não lês. E ler é muito importante. Sabias, por exemplo, que o hábito da leitura é um dos mais importantes para o desenvolvimento do intelecto e também o caminho mais curto para adquirir conhecimento?
João cortou a conversa, pois sabia que eu iria apresentar mil e um argumentos para ele continuar a ler.
— Ok, pronto, ganhaste! Eu admito que gostei de ler o livro... e quero já ler outro! — Estás a ver, deixares o orgulho de lado fica-te muito bem! —Ha! Ha! Ha! Que engraçadinho! A porta abriu-se, e a tia do João entrou no quarto.
— Então, já estão na conversa? E trabalhar, nada? — Acabámos há pouco a apresentação, tia. — Muito bem, depois quero ler esse trabalho. É pena, João, que não leias mais... — Em relação a isso, tia... — Sim?
— Percebi que, afinal, também gosto de ler. Este livro tem o fim à vista, mas a leitura não! — afirmou ele, com um sorriso maroto, piscando o olho... aos leitores deste texto.
O concurso “Ser leitor é cool!” é organizado pelos professores bibliotecários dos grupos interconcelhios da Rede de Bibliotecas Escolares dos concelhos de Alcácer do Sal, Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Estremoz, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, Mora, Nisa, Ponte de Sor, Portalegre e Sousel, com o apoio das Corrdenadores Interconcelhias e destina-se a todos os alunos destes concelhos.
O concurso tem como objetivos a promoção da leitura e o desenvolvimento da expressão e compreensão escrita e oral. Está organizado em 4 escalões: 3.º ano, 4.º ano, 5.º ano e 6.º ano.
A terceira edição do concurso decorrerá em Estremoz (presencialmente ou online, em função das condições sanitárias), cabendo a este concelho a organização da fase final, com o apoio de parceiros locais.
As inscrições deverão ser efetuadas até ao dia 18 de dezembro de 2020 no formulário de inscrição.
As Bibliotecas Cool divulgam a prestação dos alunos finalistas da 2ª edição do concurso de leitura interconcelhio "Ser Leitor é Cool" do Agrupamento de Escolas de Avis: