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Bibliotecas Cool

Observar - Ler - Sentir - Ouvir - Refletir

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07.Mai.21

Ser Escritor é Cool - Resultados do 4º Desafio | Ensino Secundário

Os Escritores Cool continuam a surpreender o júri com a qualidade dos seus trabalhos. Os resultados do 4º Desafio do ensino secundário já foram encontrados. Delicie-se com os trabalhos vencedores.  

 Relembramos quo o tema deste 4º Desafio do concurso "Ser Escritor é Cool" era "A arte tem muito que se lhe diga! Para que a quero? O que fazer com ela?"

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Dos 14 trabalhos a concurso, houve centenas de votos do público e inúmeras partilhas.

 

Os vencedores deste 4º desafio foram:

1º LUGAR - Aliete Mariana Mealha Mendonça – Agrupamento de Escolas de Mora

2º LUGAR - Laura Galvão - Agrupamento de Escolas de Mora

3º LUGAR:

Cristina Cargaleiro - Agrupamento de Escolas de Bonfim

e

Ricardo Mascate - Agrupamento de Escolas de Constãncia

 

Para que possa voltar a ler os textos dos Escritores Cool vencedores deste 4º desafio, aqui ficam os trabalhos.

 

1º LUGAR - Aliete Mariana Mealha Mendonça – Agrupamento de Escolas de Mora

Devaneio (sobre a arte)

Pessoalmente, não sou muito de participar neste tipo de desafios, acho que as pessoas acabam por moldar as suas palavras ao contexto da situação (e não as culpo).

A arte hoje em dia tornou-se algo tão abrangente, banalizada. Talvez porque tudo seja arte... mas isso sempre foi. Talvez então porque as pessoas se tenham apercebido do seu valor comercial. Hoje todos nós temos acesso a diversas maneiras de a produzir e de a globalizar, e, apesar de ser inato o facto de todos sermos artistas e de todos consumirmos arte. No séc. XIV, por exemplo, poucas eram as pessoas consideradas artistas. Erro da sociedade? Sim. Mas o certo é que a arte não oficialmente considerada arte era tão pura, era apenas e só uma forma de expressão, porque essas pessoas “não artistas” nunca fariam lucro com algo do género.

Apesar de hoje em dia o mundo, mais concretamente e neste caso a sociedade, serem diferentes para melhor em muitos aspetos (e não terem mudado em muitos outros), a forma como vemos a arte mudou radicalmente. Com isto não creio que cada um de nós expressar-se artisticamente, pelo menos uma vez por dia, seja algo negativo, às vezes só é negativo o motivo pelo qual muitos o fazem. Pessoalmente, desenho com lápis de cor e canetas de feltro desde há muito. No quarto ano, pintei o meu primeiro quadro, e adivinhem? Sim, pintei-o com aguarela (quem entende do assunto perceberá a “gravidade” e a minha inocência em toda a situação). Incrivelmente, a história por detrás é bastante simples, na verdade tudo naquela altura o era: ao folhear uma enciclopédia sobre pássaros (se a memória não me falha) bastante pesada para uma menina de 9 anos e cheia de fotos de alta resolução, avistei um fascinante colibri. Captou-me pelas cores imensas das suas penas em tons verdes e azuis, pelo seu longo e delicado bico, por toda a sua pose...tão estranhamente perfeita? Não me lembro exatamente o que me fez querer pintá-lo dado que não tinha qualquer experiência, nem me lembro mesmo do ato de o pintar, mas lembro, com uma estranha precisão, o momento em que o vi naquela enciclopédia. Bom, a verdade é que o pintei e o ofereci a uma das pessoas mais importantes da minha vida, àquela que ia de mão dada comigo para a escola na altura: À minha tia (esta história fica para outra vez, prometo). A conclusão que quero deixar-vos para reflexão é o facto de o ter feito do nada e, apesar de o ter oferecido, no fundo só o fiz pelo sentimento que tal despertou em mim momentaneamente, não numa tentativa de algo material. Para mim, e penso que muitos concordam, a arte no fundo é isso: Sentimentos. Todos misturados e confusos. Às vezes tão nítidos que se tornam confusos só por isso. Às vezes até sentimentos vazios.

Como disse no início de mais um devaneio meu, não gosto de participar neste género de concursos e, no fundo, acho que isso se deve ao que a arte representa (expressão) e ao que as pessoas decidem fazer dela (um objeto). A desvalorização da arte desperta em mim, como ser pensante, tantos sentimentos que me fazem querer produzir mais arte, irónico, não é? Tal facto levou-me a estar aqui hoje a escrever.

Neste momento é de noite, cerca de dez e meia. Observo todos os desenhos, fotografias, quadros, colagens...memórias que tenho a preencher, deixando espaços metodicamente organizados por mim, as paredes do meu pequeno mundo. Fazem lembrar-me do que senti no momento em que criei, em que comprei, em que presenciei. Olho mais atentamente e surge-me algo mais- Saudade. Sei que todos nós a sentimos agora, mas uma pandemia mundial em tudo não foi negativa. Muitos foram os seres que se encontraram mais um bocado perto de si enquanto “presos” em casa. Mais um ponto de reflexão para a humanidade: Porque precisamos de ser “enclausurados” para haver tempo para as nossas paixões? Para nos dedicarmos ao que realmente nos deixa exprimir? Ao que nos faz acordar de manhã e pensar: “Hoje sinto-me mais eu do que ontem”? Acho que todos sabemos a resposta. Estamos sempre tão ocupados a cumprir tudo o que nos é imposto por simplesmente sermos humanos que nos esquecemos que realmente o somos. Tenho esperança de que este tempo nos tenha deixado mais isso (sei lá o que isso realmente for).

Numa tentativa mais objetiva de refletir sobre para que queremos ou o que podemos fazer com a arte, irei falar-vos um pouco da minha experiência neste mundo. Como é de esperar pela manifestação do nosso genótipo, somos todos desiguais. A nível interior especialmente. Rematando as minhas ideologias, a arte é algo que está inato em nós, quer sejamos pintores, atores, escritores ou advogados, polícias, construtores. A arte não se baseia só em desenhar, pintar, escrever, etc. Sentir é arte, apreciar todas as coisas simples da vida, entender o quão pequenos somos, o quão todas as experiências são algo a acrescentar sendo que nascemos no ponto zero. Apreciar a complexidade da natureza, de tudo o que nos rodeia. Afirmo-vos tais sentimentos porque salvei-me com a arte e faz agora um ano (é nesta parte que entra “a minha experiência neste mundo”): Estou num curso que não satisfaz muitas das minhas necessidades emocionais, mas que por falta de oportunidade não tive propriamente uma escolha. Há um ano atrás, estando no segundo ano do curso, sentia-me muito perdida e desconhecia muito de mim, o que me fazia sentir desmotivada. Entrei num loop clássico de ignorar o que me rodeava por conta da pressão, da ansiedade, da sociedade, da ignorância e da negligência que presenciava. Então, em plena pandemia, de repente com tanto tempo livre, e com um mundo a perder-se também, eu tive tempo e levei-me a conhecer-me melhor pela arte. Acho que conseguem perceber o resultado de tudo isso, por tudo o que vos disse até aqui. Hoje sinto-me satisfeita, sinto-me em paz, aprendi a lidar melhor com a pressão e com o que me rodeia, porque escolhi conhecer e agradecer primeiro.

Então perguntaram-me “O que podemos fazer com a arte? Para que a queremos?” e lancei-me. Dado tudo isto, talvez a pergunta mais pertinente seja mais o que não podemos fazer com a arte, porque podemos fazer tudo. Aliar a arte à nossa mente é um poder que apenas alguns parecem compreender, e esses vivem em paz. Assim, não há como não a querer. A arte faz parte de nós como qualquer órgão vital que nos assegura o bem estar físico, renunciá-la é implorar para ficar aprisionado num corpo sem mente, sem o poder de ver para além do físico, do que o fotorreceptores da retina captam. Sejamos mais que isso. Façamos arte por nós, pelo que sentimos como filhos de um complexo composto de matéria. Não por querermos algo que não nos aumenta em nada. Algo que nos torna mais pedra. Algo meramente simbólico e material. Queremos a arte para nos encontrarmos no tanto em que há para procurar neste mundo, para enfrentarmos os medos mais irracionais, experienciarmos o limite do nosso estado físico e partilharmo-nos (uma vez que nos tenhamos a nós) com tudo e todos os que nos rodeiam. Queremos a arte para encontrarmos ordem no meio do caos.

Por último, apelo-vos: Sintam. Sintam como quiserem. Não há certo e muito menos há errado no que toca à arte, ao que sentimos. Por isso, parem um bocado (se bem que o tempo é relativo), por isso parem todo o tempo que precisarem, quanto quiserem, e apenas se sintam, sintam o que se passa ao vosso redor e dentro de vós. Façam (mais uma vez) o que quiserem com esse(s) sentimento(s), e lembrem-se: Mesmo que não fique como imaginaram, é o que vocês sentem que ali está, e sentir valerá sempre a pena. Breath in & take it easy.

 

2º LUGAR -  Laura Galvão - Agrupamento de Escolas de Mora

A arte tem muito que se lhe diga

A arte tem muito que se lhe diga, pois tem. E é um bocado difícil definir em concreto o que é a arte. A arte é algo que se considera belo, mas nem tudo o que é belo é arte e nem tudo o que é arte é belo aos olhos de todos. Por exemplo, eu não acho que “A fonte” de Marcel Duchamp possa ser considerado arte só porque os ditos “connaisseurs” dizem que é.

Por vezes, parece que só porque algo é “diferente” é considerado arte, mas, na minha opinião, a arte vai mais além disso, a arte é uma forma de comunicação e expressão que não tem regras aparentes, mas tem de ter alguma regra, alguma coisa que nos diga o que é ou não arte.

Por exemplo, porque é que uma parede branca não é considerada arte, mas uma tela completamente branca é? Só porque ninguém se lembrou de o fazer? Só porque é “original”? Honestamente, eu chamo-lhe bloqueio de artista ou preguiça, mas isto é a minha opinião, não te deixes levar por ela.
Porque é que há livros que recebem prémios e outros não? O que é que torna uma música um clássico que se vai ouvir durante décadas, ou até mesmo séculos, e o que é que a torna numa música que só se ouve durante uma semana? As pessoas que consomem esta forma de arte? Ou os críticos e os “connaisseurs”?
Penso que seja a segunda, a maioria deles são artistas falhados e são completamente pretensiosos, para eles só o que nunca se viu pode ser considerado arte, mesmo que o artista não queira dizer nada com aquilo e só queira gozar com a cara de quem vê e até mesmo com a cara dos próprios críticos que têm a mania que percebem muito do assunto. Repito, é a minha opinião, não te deixes levar por ela, não quero ser perseguida por incentivar um monte de pessoas a odiar críticos.

Para que a queres? Fácil! Para te expressares! Às vezes é complicado dizer em voz alta aquilo que realmente sentimos e a arte está lá para nos ajudar. Ao escreveres, pintares, esculpires, dançares, cantares, tirares fotos, atuares e etc, estás a expressar-te e a deixar que os teus sentimentos e que as tuas opiniões ganhem voz de uma maneira única e TUA.

Também podes usar a arte quando, sei lá, te tornares ativista, até existe uma palavra muito gira “artivismo”, adoro essa palavra, é a junção da palavra “arte” e “ativismo”. 

Penso que realmente devias dar uma oportunidade à arte, para te expressares, para dares voz à tua liberdade, para gritares “ISTO TEM DE MUDAR!”, para fazeres todos verem que és forte e que não te contentas com o sistema que tens, vai grita com todas as tuas forças “EU QUERO IGULADADE”, “EU QUERO JUSTIÇA”, “EU QUERO DAR VOZ AOS QUE NÃO PODEM FALAR”. Agora vai, expressa-te, sê um lobo entre ovelhas, sê um ARTISTA.

 

3º LUGAR - Cristina Cargaleiro - Agrupamento de Escolas de Bonfim

Cores

Na primeira vez que abri os olhos e olhei à minha volta, todo o mundo brilhava com encanto. E quando me olhava ao espelho, via esse encanto do mundo no meu reflexo.

O tempo caminhou, o rio fluiu e eu cresci. Infelizmente, cada dia que a minha idade avançou, o meu mundo esvaziou e cada vez que observo este mundo, vejo memórias negras envoltas nesta velha tristeza. . Sinto crescer em mim uma estranha amargura. Já não me conheço. Eu não sou assim!

Porque perde a vida o seu encanto? Porque me entristece agora o mundo?

Encontrei a minha fuga desta nostálgica tristeza através da arte. Os problemas perseguem-me sem tirar folga. Se não fosse pela arte, nunca teria o meu otimismo de volta.

A arte desenhou os meus sonhos, as minhas palavras, os meus movimentos. A arte devolveu-me todas as maneiras positivas de me expressar. Ainda me lembro claramente do dia em que pela primeira vez à arte fui apresentada:

 

4 de janeiro

Querido diário,

Estou enleada nos meus negros pensamentos quando oiço uma música ao fundo, Vivaldi, «As quatro estações» e todas as estações passam por mim, acenando coloridas. É provavelmente uma fantasia mas há tanto tempo que não me sentia tão viva. Alguém dança ao longe e sorri com alegria. Eu não danço, não fui abençoada com esse talento, mas também sorrio. De repente, toda a paisagem se esbate nos seus contornos, apenas ficam as suas cores. Nunca tinha visto assim o mundo, parece que estou dentro de um quadro impressionista. Alguém canta por cima da melodia. Não percebo a língua. Não vejo o vocalista. E não consigo esquecer aquela voz tão sublime. Muda a cantiga e já percebo a língua e canto com ele o estranho poema que parece tão meu e todos os meus sentimentos se juntam e contagiam mesmo sem os compreender.

Acordei poucos momentos a seguir. E acordei feliz. Pela primeira vez em tanto tempo, voltei a sentir-me eu.

Tudo aquilo que durante o crescimento e no correr dos meus dias sofri, já não faz parte de mim. Mantenho-o nas minhas memórias, viver é mesmo assim, mas já não tem poder em mim.

Cristina

Uma coisa muito lamento, todos lamentariam, somos todos humanos e eu mais uma que assim nasci, essa paisagem maravilhosamente bela, nunca mais a vi. Quero acreditar que é por um bem maior, para mais alguém a descobrir, apesar de isso não me deixar menos triste.

Tornei-me artista. E tornei o objetivo da minha vida mostrar através da arte a beleza e encanto do mundo. Não, ainda melhor do que aquela que temos no mundo material, mostrar ao mundo aquela versão do mundo que só existe na nossa imaginação, ou, se existe, captar esse momento idílico e eternizá-lo.

Quero conhecer todas as artes do mundo e deixar a minha marca artística no futuro. De momento, retarda o meu percurso toda a arte ter um custo. De novo eu lamento não ter a paisagem que eu podia ver, à minha frente, sem ter de contar os tostões até ao fim do mês. É aí que se ramifica o meu percurso. Quando criar a minha arte e a partilhar com o mundo, quero que seja, de facto, para todo o mundo. Porque tal como toda a beleza que em pequenos vemos no mundo, devemos todos poder, pelo menos uma vez, rever pela arte sem qualquer custo essa beleza que perdemos à medida que crescemos .

Acredito que voltarei a ver essa paisagem no mais alto expoente da sua imponência quando a criar e partilhar com as novas pessoas com quem me cruzará o meu futuro.

 

3º LUGAR - Ricardo Mascate - Agrupamento de Escolas de Constãncia

“Ma n#$%&
Diz-me se isso é arte
Ou é ar de duro
Quarto escuro
Arte ou é ar de duro N#$%& diz-me se isso é arte
Ou é ar de puro
Sabe tudo
Arte ou é ar de puro
Ma n#$%& diz-me se isso é arte Ou é ar, ou é arte, ou é ar, ou é arte Ou é ar, ou é arte
N#$%& diz-me se isso é arte
Ou é ar de puro
Arte ou é ar de duro”

Slow J - Arte

Falando, especificamente, sobre este tipo de arte:

O tipo de arte, que falo, é a música. Pessoalmente, se não fosse a música, seria uma pessoa, completamente, diferente. Alguns artistas fazem a diferença. Esses fazem a diferença, pois influenciam toda uma geração, tanto na maneira de pensar, como de agir. Por vezes, não temos noção da magnitude disto, mas é a realidade. Devemos levar em consideração a facilidade de acesso da mesma. Esta parece estar presente em todo o lado. A mesma marca momentos da nossa vida. A importância que tem, nos dias de hoje, por vezes, não é devidamente dada. Alias, às vezes, é ridicularizada. Quem a ridiculariza, não sabe o seu verdadeiro significado e propósito. O prazer que proporciona é indescritível. Dentro do mundo da arte é a maior invenção. Afirmo, com certeza absoluta. De vez em quando, penso que seja o evoluir da poesia. Existe um intérprete  e um poema a ser interpretado melodicamente. Vejo a música  como uma identidade amiga. Na solidão há a possibilidade de ela estar presente, sendo reconfortante. O sonho e a música juntas são um par perfeito. A música é um pretexto para as pessoas se juntarem (apesar de não ser muito recomendado nos dias de hoje). Em vez de orar por uma identidade mítica, devíamos orar à música. De facto, oramos, mesmo que ela seja, ocasionalmente, burra e comum. Ela é a nossa musa. A música é de tal forma terapêUtica, que devia estar incluída no mundo da medicina e afins. Vou mas é buscar os fones e deliciar-me com eventuais músicas, enquanto escrevo...

Falando, de forma generalizada, sobre a arte:

A arte penso que tenha surgido naturalmente, mas não por acaso, pois surgiu como uma forma de expressão. O humano sente a necessidade de se expressar, de forma a canalizar uma ideia num produto que pode ser apreciado por outrem. Essa apreciação leva à aceitação, pois então pergunto: Quem não gosta de ser aceite? Mas não devemos só limitar a arte a um estado de bem-estar social, pois ela não é só isso. Devemos olhar para o produtor da mesma, olhando o prazer que a realização de um projeto dá. Maioritariamente, todos nós procuramos prazer, certo? Este prazer contribui para uma boa jornada, jornada essa que é a vida. Reparei agora numa coisa. A maior parte do tempo que gastei na minha vida foi a consumir arte. Pessoalmente, não vejo isto como um grande mal, pois foi tempo bem gasto. Devo, então, à sorte que tive em puder gastar o tempo desta forma. Curioso pensar que podemos associar quase tudo à arte. Por exemplo, não fica mal dizer: a arte da vida ou a arte de errar. Pensando assim sou artista a tempo inteiro, mas é a tal coisa: gasto demasiado tempo com a arte. Vá! Vou dar um exemplo de arte que gosto muito. Sétima arte. Eu sou aquele tipo de pessoa que... já vi a maioria dos clássicos do cinema. Quando falo em clássicos, falo, também, em filmes com mais idade do que os meus pais. É algo que me orgulho, mas ao mesmo tempo não, pois poderei ser confundido com um “nerd”. Mas, de facto, sou e, realmente, não me importo de o ser. Aos olhos de outrem poderá ser considerado como algo negativo, mas aos meus olhos é uma forma de ter tema de conversa com o meu pai. Pai! Já viste este filme? É as tais coisas. Neste caso, estou aqui a escrever e a literatura, também, é outro tipo de arte. Se tenho prazer em escrever? É... mais ou menos, depende. Aqui, neste contexto, estou a ser avaliado, sendo eu uma pessoa insegura, o prazer diminui, consideravelmente. Não gosto de ser avaliado. Ser avaliado é uma coisa demasiado cruel. Não vejo arte nisso. Constata-se a arte de se contrariar, em primeira mão. Este tipo de jogo gosto. É divertido. E esta arte, que estou aqui a constatar, é o denegrir deste texto, devido ao desinteresse do autor em continuar a escrever. Isto é lindo. Lindo a forma como isto pode ser um pretexto para fazer uma metáfora. O denegrir do texto é a vida. Começamos bem e, eventualmente, vamos envelhecendo. Uau! Daí o denegrir. Isto de não conseguir dar fim ao texto até acabar as duas páginas dá cabo de mim. Este perfecionismo. É a tal coisa, a arte do perfecionismo. Agora vejo, claramente, o denegrir. Começo por filosofar e tudo muito bonito, acabo a discutir os meus gostos. Tudo acaba por ser ostentação. Ia! Lembrei-me de uma coisa espetacular. Ando a ver uma série chamada: “True Detective”. E nela existe uma das melhores metáforas que já vi na minha vida. Sinto a necessidade de a partilhar com quem está a ler isto. Com certeza, isto, para mim, vai ser dificílimo explicar, pois duvido das minhas capacidades, mas já estou comprometido a fazê-lo, portanto, faço. A coisa acontece, mais ou menos, assim: Os dois personagens principais olham para o céu... esqueçam. Eu até explicava, mas acho por bem o leitor ver o vídeo da cena. São dois minutos, porém afirmo que não será tempo perdido. Serão necessários certos requisitos, como: entender a língua anglo- saxónica. Se não souberem, então têm que ver a sérid, porém mesmo assim, para quem entende o inglês, recomendo o visionamento da mesma. Sinto que estou a criar demasiadas expetativas para a metáfora, mas, sinceramente, não quero saber, pois eu sou um mero ser-humano errante que poderá, redondamente, errar. A arte de finalizar com chave de ouro está agora a ser constatada, por isso, aproveitem enquanto podem. Concluindo, quando olharem para o céu, constatem que eu, Ricardo Alves Mascate, sou uma das estrelinhas, ou, pelo menos, penso que sou, ora poderei ser um dia... Quem sabe?

Melhor metáfora alguma vez feita na historia das metáforas:

https://www.youtube.com/watch?v=XmdPY-hFSt0

07.Mai.21

Ser Escritor é Cool - Resultados do 4º Desafio | 3º ciclo

Os Escritores Cool continuam a surpreender o júri com a qualidade dos seus trabalhos. Os resultados do 4º Desafio do 3º ciclo já foram encontrados. Delicie-se com os trabalhos vencedores.  

 Relembramos quo o tema deste 4º Desafio do concurso "Ser Escritor é Cool" era "A arte tem muito que se lhe diga! Para que a quero? O que fazer com ela?"

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Dos 7 trabalhos a concurso, houve centenas de votos do público e inúmeras partilhas, leitura dos textos e audições do podcast.

 

Os vencedores deste 4º desafio foram:

1º LUGAR - Beatriz Grácio – Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes

2º LUGAR - Maria Saldanha – Escola Secundária da Portela

3º LUGAR - Andreia Mimoso, António Batista, Daniela Serra, Laura Marques e Luana Felício - Agrupamento de Escolas de Marvão

 

Para que possa voltar a ler os textos dos Escritores Cool vencedores deste 4º desafio, aqui ficam os trabalhos.

 

1º LUGAR - Beatriz Grácio – Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes

Capítulo IV: Desbloqueaste-me

“A arte não está no que fazemos, mas sim no que sentimos” − assim foi registado no meu bloco, no dia quinze de dezembro de dois mil e dezanove. E considero esta uma das coisas mais marcantes que já disse e pensei em toda a minha vida. Ou melhor: que tu me fizeste dizer e em que tu me puseste a pensar.

Na noite anterior, quando nos havia chegado a notícia das melhoras da tua mãe, ficaste muito eufórica, e eu com o sentimento que mais abominava: não sentir nada.

Eu não me importaria de estar zangado, rabugento ou mal disposto, naquele momento, pois até era a minha zona de conforto; nem tão pouco me importaria de estar triste, porque a tristeza era sempre transformada numa espécie de irritação ou fúria, sentimento que, segundo a minha cabeça, me protegia de tudo e de todos. Mas o problema era que, naquele momento, eu não estava feliz, não estava zangado, não estava triste. E eu detestava não estar a sentir nada.

A avó Aline deitou-te, quando te acalmaste da imensa euforia que havia tomado conta de ti. Eu fui para a cama muito tarde e acordei cedo na manhã seguinte. Depois de ficar até altas horas da noite a ver televisão na sala (ou melhor, a pensar com a televisão ligada), lembrei-me de que tinha outra zona de conforto, que era, somente, o escritório. Como tal, às sete e meia da manhã, levantei-me, tomei banho e arranjei-me como se fosse sair de casa para uma reunião muito importante. Fechei-me na divisão antiquada, com altas estantes castanhas, e sentei-me na minha poltrona vermelha de veludo, atrás da minha secretária gigante. Mais ou menos uma hora depois, concluí todo o trabalho que estava por fazer, ou seja, finalizei as crónicas que tinha de escrever para aquela semana. Como tal, decidi debruçar-me sobre a minha própria escrita, porque há escritores que não são jornalistas, mas não há jornalistas que não sejam escritores, daqueles que libertam a sua imaginação com estórias ou poemas. Dediquei-me então a uma história de muitos capítulos, que já andava a escrever há cerca de duas semanas, sobre um rei que se casava com uma rainha muito rica, mas depois se apaixonava pela sua irmã, e tudo durante uma terrível guerra, com a qual não se importavam, tão concentrados que estavam nos luxos.

“A rainha e o rei não sabiam se haviam de rir ou chorar. Depois de investir uma boa fortuna num casamento luxuoso, tinham escolhido um músico que não sabia tocar a melodia pretendida. Farto das queixas mesquinhas e das músicas complicadíssimas que lhe pediam para tocar, o músico ganhou coragem, ignorando a quase certa execução, e defendeu-se:...”...“E defendeu-se....”...“E defendeu-se, protestando que...”.

Eu conhecia a história há muitos anos, mas estava bloqueado, que era das coisas que mais detestava logo a seguir aos ativistas. E sempre que estou assim, a minha cabeça gira e gira à volta do que me pode estar a bloquear. Afinal, o medo de que fosses embora congelava o meu orgulho. E foi precisamente no meio desse turbilhão de questões que entraste no escritório.

− Olá! O que estás a fazer no escritório?
− Tento escrever – respondi, de forma seca e breve.
− Tentas? Por que razão não consegues? Tu não sabes escrever? Eu também ainda não sei, mas não faz mal. Já estou a aprender a letra C, que é quase uma minhoca muito enroladinha...
− Eu sei escrever. Sou jornalista. É claro que sei escrever.

Hoje, rio-me do quanto a tua afirmação me deixou irritado ou, pelo menos, serviu para despejar a ira que sentia.
− Mas não sei o que escrever nesta parte. Estou bloqueado...
− Bloqueado? Não percebo. Mas tu és um escritor muito bom! Sabes sempre escrever bem. Como é que podes estar bloqueado?
− Não é isso! Eu não posso escrever qualquer coisa sem sentido nenhum. As palavras bonitas têm de ter significado e de tocar quem lê! E isso não se aprende, porque a arte não está no que fazemos, mas sim no que sentimos.

Pode ser por ter estado acordado até às duas da manhã, mas, naquele momento, soube precisamente que o músico se defendeu com essa frase: “A rainha e o rei não sabiam se haviam de rir ou chorar. Depois de investir uma boa fortuna num casamento luxuoso, tinham escolhido um músico que não sabia tocar a melodia pretendida. Farto das queixas mesquinhas e das músicas complicadíssimas que lhe pediam para tocar, o músico ganhou coragem, ignorando a quase certa execução, e defendeu-se, protestando que a arte não está no que fazemos, mas sim no que sentimos! Desta forma, acabou por revelar que o casamento era uma farsa, denunciando, perante todos, o caso do rei com a irmã da rainha!”.

“No que sentimos”... Se calhar, eu não estava sem sentir. Se calhar, eu sentia medo. Medo de a tua mãe te levar de mim e não te ter comigo nunca mais.
− Mas para que serve a arte, afinal? – perguntaste como que a adivinhar os meus pensamentos.
− Como disse, a arte não está só em fazer coisas bonitas, em pintar um lindo quadro, por exemplo.

Mas está na forma como nos sentimos e em como expressamos as emoções. A arte não pode ser uma coisa exata, como são as regras. A arte está em tudo o que fazemos com sentimento. Às vezes, só sentir já é bonito. Só o sentimento cru já é arte.

Sorriste, pareceste esclarecida com a explicação, surpreendentemente. Nem eu próprio entendi de onde tinha vindo toda aquela treta sobre sentir. Até fazer as pazes com a tua mãe (como recordas que aconteceu depois), privei-me de sentir. Claro que foste um enorme desbloqueio no meu coração, Catarina. Nunca duvides disso. Mas dizem que perder um filho é uma dor que nunca se ultrapassa. E quando criei esta zanga com a tua mãe (que julgava que fosse durar para sempre), deixei de sentir. Deixei de acreditar no amor pelas pessoas. Deixei de confiar em mim, lá bem no fundo. Eu dizia que nunca perdoaria a tua mãe pela irresponsabilidade dela, ao longo da adolescência, e pela forma como me abandonou. Mas hoje sei com certeza que, na verdade, não me queria perdoar era a mim mesmo. Comecei a aperceber-me de que esta luta era interna e só eu podia acabar com ela. Contudo, se dependia de esquecer o passado da tua mãe, duvidava que isso fosse acontecer alguma vez.

 

2º LUGAR - Maria Saldanha – Escola Secundária da Portela

A arte tem muito que se lhe diga! Para que a quero? O que fazer com ela?

A palavra “arte” vem do latim ars, que significa técnica ou habilidade. É com as nossas mãos, o nosso corpo e a nossa mente que criamos arte. O nosso corpo experiencia as sensações e, na nossa mente, as memórias prevalecem.

Se perguntarmos a alguns, muitos dirão que a fazer arte é desenhar, pintar, esculpir, escrever... dirão que a arte é a música, a dança, o cinema ou o teatro. Teoricamente, é verdade. Mas, a meu ver, a arte é muito mais do que isso, e por isso é que tem muito que se lhe diga. “A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação”, já dizia Eça de Queirós. A própria natureza é a arte de Deus.

É pela arte que expressamos os nossos pensamentos, sentimentos e as nossas opiniões. Enquanto os músicos se expressam através das canções que escrevem e cantam, revelando a sua alma e o seu lado mais íntimo, a escrita e as personagens refletem, por vezes, o escritor. Mas a verdade é que é tudo o mesmo: PALAVRAS! Eu poderia cantar e escrever num livro as seguintes palavras:

“Parece que os problemas se afastaram. E eu estava num lugar onde te podia amar sem rédeas. Éramos só tu e eu! E foi aí que percebi que podia viver mil vidas e nada se compararia a esta paixão.”

Não foi deste pequena que desenvolvi a paixão pela escrita, mas, mal comecei a escrever, apaixonei-me por ela. Quando escrevo, sinto-me exatamente como acima se descreve. É como se estivesse a viver noutro planeta, distante e de fantasia, onde sou feliz todos os segundos, onde não existem problemas e onde o que desejo acontece. Sempre amei ver filmes ou séries românticas, por isso, quando as comecei a escrever, foi como se estivesse a fazer magia.

Apesar de as palavras servirem para nos expressamos, também existem outras formas de o fazermos. Os pintores transmitem o que sentem através de um desenho, de um quadro; os músicos sentem cada som ou acorde que tocam num instrumento; e os escultores usam as suas mãos, cheias de emoções e aventuras, para moldar um material. Se pensarmos bem, é tão engraçado, pois, a partir do nada, construímos uma coisa bela. A partir de um pedaço de madeira, construímos uma face; a partir de um quadro ou um papel branco, fazemos um desenho, escrevemos e compomos uma música. “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível,traduz o intraduzível.” Quem o disse, e muito bem, foi Leonardo da Vinci.

Todos nós conseguimos criar arte, basta acreditar!

 

3º LUGAR - Andreia Mimoso, António Batista, Daniela Serra, Laura Marques e Luana Felício - Agrupamento de Escolas de Marvão