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20.Jun.21

Ser Escritor é Cool - Resultados do 5º Desafio | Ensino Secundário

Após uma difícil tarefa de seleção dos 3 melhores trabalhos, o júri já se decidiu e os resultados relativos ao 5º e último desafio do ensino secundário já foram encontrados. Delicie-se com os trabalhos vencedores.  

 Relembramos quo o tema deste 5º Desafio do concurso "Ser Escritor é Cool" era "A Escola já não tem nada a ver connosco! Escola, como te quero?"

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Os vencedores deste 5º desafio foram:

1º LUGAR - José Aniceto – Agrupamento de Escolas de Mora

2º LUGAR - Laura Galvão - Agrupamento de Escolas de Mora

3º LUGAR - Ricardo Mascate - Agrupamento de Escolas de Constância

 

Para que possa voltar a ler os textos dos Escritores Cool vencedores, aqui ficam os trabalhos.

 

1º LUGAR - José Aniceto – Agrupamento de Escolas de Mora

A escola já não tem nada a ver connosco. Escola, como te quero?

Nos textos anteriores que escrevi para este concurso, tentei mascarar a minha opinião num cirurgião amante de enciclopédias, mas desta vez vai ser diferente. Desta vez vou expressar aquilo que eu sinto nua e cruamente.

Quando li a primeira frase do título desta etapa (“A escola já não tem nada a ver connosco”) pensei imediatamente para mim: “Afinal não sou só eu...”. Acho que a escola, de hoje em dia, tem dois problemas, afasta-nos e sufoca-nos.

Primeiro, afasta quem gosta de outras coisas. Parece que nos quer formatados para estarmos das 9 da manhã às 5 da tarde a premir um botão vermelho uma e outra vez até chegarmos à reforma. Trata-nos como robôs que estão todos na mesma posição, como se tivéssemos motherboards iguais e pensássemos todos o mesmo. Mas o ser humano não é assim, há quem goste de cozinhar, de fotografar, de fazer música e muitas outras coisas, mas tem de saber obrigatoriamente o que é uma equação quadrática e como se resolve, ou então é rotulado como “preguiçoso”, “desinteressado” e “mal sucedido”. Tudo bem que isto é um bocado redutor e que o mundo não é só preto no branco, mas o que estou a tentar dizer é que se passarmos a vida a julgar um peixe pela sua habilidade de subir uma árvore, ele vai passar o resto da sua vida a achar que é estúpido. Uma frase que alguns dizem ser de Einstein, mas que já se comprovou o contrário.

Em segundo lugar, a escola sufoca-nos até não podermos mais. Passamos doze anos da nossa vida a correr para preencher meia-dúzia de folhas às quais alguns chamam “Exame”. Estamos tão constantemente preocupados com o Português, a Matemática, a Físico-química que nos esquecemos de aprender a conviver socialmente, a calcular o IRS, a saber gerir o nosso dinheiro, a expressarmos a nossa individualidade e muito mais, temas que nem nos apercebemos que fazem falta.

Mas chega de "pseudo filosofar" que os filósofos só apresentam problemas para outros problemas que já existem. Agora vou sugerir o que, na minha opinião, se devia fazer.

Comecemos por nos aperceber da diversidade de alunos e tentemos englobar as vocações que encontrarmos e traçar caminhos para cada um deles. O que é um exame? Um conjunto de opções A e B e de respostas de desenvolvimento que avaliam todos de forma igual? Somos humanos, mas isso não nos faz iguais. Há quem tenha um ensino mais personalizado por viver em terras pequenas, há quem passe despercebido numa turma de 30 e 40 alunos, há quem viva com a possibilidade de visitar um Museu, uma exposição e muito mais. Igualdade não é a solução, a equidade e justiça “talvez” se enquadrem melhor porque sinto mais que sou eu que tenho de me adaptar à escola quando o que devia acontecer seria o contrário.

Agora que cada um tem o direito de escolher aquilo que o apaixona, vamos falar na avaliação. Arriscar-me-ia a dizer que um dos maiores entraves à avaliação são as profecias auto-realizáveis, ou seja, aquilo que nós pensamos de uma pessoa vai influenciar o modo como ela se comporta. Os alunos que costumam ser bons, normalmente há uma tendência para subirem ou se manterem no mesmo nível, os alunos que têm tendência para as negativas já partem do pressuposto que está tudo acabado e já não há esperança. Acho que devemos desenvolver desde pequenos a nossa resiliência enquanto pessoas que estão a ser avaliadas, e aumentar a exigência e consciencializar os professores deste termo (“profecia auto-realizável”) para que tenham cuidado quando atribuírem determinada nota aos alunos, enquanto avaliadores.

Tenho muito mais a dizer. Acho que isto até ficaria melhor em podcast e sem limite de tempo. Vou pensar melhor sobre o assunto, mas agora tenho de ir estudar as raízes enésimas de um número complexo. Não sei muito bem para quê, mas o ministério lá tem as suas razões...

 

2º LUGAR - Laura Galvão – Agrupamento de Escolas de Mora

A escola já não tem nada a ver connosco! Escola como te quero?

Boa pergunta, escola como te quero?
Quero-te como entendedora de quem eu sou. Quero-te como entendedora de quem eu quero ser. Quero-te como um lugar onde posso ser eu próprio. Quero-te como um sítio onde me posso expressar sem me repreenderem.
Quero que entendas que estou a crescer e que me aborreço porque me continuas a tratar como uma criança.
Quero que percebas que eu não sou igual aos meus colegas. Quero que me vejas como um aluno único e diferente, quero que nos vejas a todos como alunos únicos e diferentes. Quero que mudes a tua percepção de ensino, não sou mais um tijolo na parede, não sou um robô que possa ser formatado como tu queres.
Quero que mudes comigo, que cresças comigo, quero que te adaptes ao mundo, porque o mundo está em constante evolução e tu estás a ficar para trás.

Escola, ouve-me bem, não é a primeira vez que ouves isto e se continuares assim não será a última. Os teus alunos precisam de ti, os teus alunos precisam que os ouças. Tens de perceber que nós somos o futuro, tens de perceber que aquilo que vão pedir de nós no futuro não está neste tipo de ensino.

Estás a ficar velha e cansada (e cansativa), tens de te renovar e esta foi a melhor prova do quão “fora de prazo” estás a ficar, em tempo de pandemia tu não sabias o que fazer, não sabias como agir, não sabias como ajudar os teus alunos.

Escola, em nome de todos os teus alunos, tu tens de mudar, tu tens de evoluir e tu tens de nos acompanhar.

 

3º LUGAR - Ricardo Mascate - Agrupamento de Escolas de Constância

A escola já não tem nada a ver connosco! Escola, como te quero?

“ BOM DIA, BOM DIA

BOM DIA A TODA A GENTE

EU HOJE VENHO À ESCOLA
E POR ISSO ESTOU CONTENTE

BOM DIA, BOM DIA
BOM DIA A TODA A GENTE

EU VOU APRENDER MUITO
E POR ISSO ESTOU CONTENTE

BOM DIA, BOM DIA
BOM DIA A TODA A GENTE

EU VOU FAZER AMIGOS
E POR ISSO ESTOU CONTENTE “

Jardim de Infância – Volume 6

Já lá vai o tempo em que a mentalidade era esta... Achei por bem colocar tais versos em maiúsculas, pois estes evidenciam o tom de voz utilizado nesta respetiva linha de tempo de forma muito credível. Se calhar, tais músicas são a causa de muitas das febres verificadas nos eventuais Homo Sapiens em miniatura, que frequentam o jardim de infância. Constata-se que a energia, excessivamente, utilizada pelos mesmos na interpretação seja a consequência de tais patologias. Tudo isto se torna numa bola de neve, pois consequência de tais febres obrigam a população ativa a ficar em casa. Quando falo de população ativa, falo dos Homo Sapiens de maiores proporções, que cuidam dos de miniatura. Ou o contrário, depende da situação.

Fontes de felicidade estes miúdos febris, que a longo prazo serão fontes de infelicidade. Talvez, a longo prazo devêssemos, também, cantar o “Bom dia, Bom dia, Bom dia a toda a gente”. Evitamos de ser fontes de infelicidade e adquiramos uma maior etiqueta. Etiqueta essa que esta na moda não a ter. Eu, sendo um fiel fã do “Jardim de Infância - Volume 6”, fico muito triste, quando o “bom dia” não me é dado por eventuais seres humanos. Fico revoltado, internamente. Fico indignado, internamente. Internamente, perco a vontade de ir à escola, perco a vontade de aprender muito e ganho a vontade de fazer inimigos. Tal estado de espírito reflete muito bem a pessoa que sou hoje. Ou seja, um Homo Sapiens de grandes proporções, onde, internamente, continua a haver um de miniatura com algumas modificações. Por exemplo, não tenho, frequentemente, febre e não tenho vontade de fazer amigos.

Ricardo Mascate/ 12oA/ No28/ Escola Básica e Secundária Luís de Camões, Constância/ Ser emoldurado.