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20.Jun.21

Ser Escritor é Cool - Resultados do 5º Desafio | 3º ciclo

Após uma difícil tarefa de seleção dos 3 melhores trabalhos, o júri já se decidiu e os resultados relativos ao 5º e último desafio do 3º ciclo já foram encontrados. Delicie-se com os trabalhos vencedores.  

 Relembramos quo o tema deste 5º Desafio do concurso "Ser Escritor é Cool" era "A Escola já não tem nada a ver connosco! Escola, como te quero?"

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Os vencedores deste 5º desafio foram:

1º LUGAR - Joana Feiteirona e Beatriz Vieira - Agrupamento de Escolas José Régio

2º LUGAR - António Batista, Daniela Serra, Laura Marques e Frederik Watts -  Agrupamento de Escolas de Marvão

3º LUGAR - Beatriz Grácio – Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes

 

Para que possa voltar a ler os textos dos Escritores Cool vencedores, aqui ficam os trabalhos.

 

1º LUGAR - Joana Feiteirona e Beatriz Vieira - Agrupamento de Escolas José Régio

 

     

 

2º LUGAR - António Batista, Daniela Serra, Laura Marques e Frederik Watts -  Agrupamento de Escolas de Marvão

A escola já não tem nada a ver connosco! Escola, como te quero?

Há um lugar para onde tens de ir,
todos os dias, sem exceção.
Um lugar onde aprendes um pouco de tudo, quer gostes, quer não.
Chama-se escola e está de braços abertos para ti, De segunda a sexta, pois então.

A escola já não tem nada a ver connosco?
Às vezes tem, outras não...
Mas todas as gerações que vieram antes de nós,
sentiram esta contradição.
Sim, é o nosso trabalho, a nossa obrigação,
é um lugar para todos, grandes ou pequenos, loiros ou morenos, menino ou menina. Uns gostam, outros não, às vezes é seca, mas também é diversão.
E há tanta coisa interessante, quando compreendes a lição!

Em todos os períodos temos fichas de avaliação, pesquisas a efetuar, trabalhos a apresentar...
Ficas com medo e ansiedade, dizem-nos que é para o nosso futuro
e isso é verdade.
Só que quando chego a casa, apetece-me desligar, esquecer a escola, simplesmente, relaxar.

Não é falta de vontade, tão pouco desinteresse,
Mas escola de manhã à noite
é difícil e exigente!
A interação é necessária para o ensino florescer,
modernizar é preciso, não basta ler e escrever, há que debater ideias, dar espaço aos alunos para crescer, com ou sem tecnologia,
a escola é das pessoas, são elas que fazem acontecer.

Temos amigos e os intervalos são divertidos,
mesmo quando os professores parecem chatos e ralham comigo, contigo, todos sabemos que é para conseguirmos
ser alguém no futuro:
médico, enfermeiro, polícia, engenheiro,
contabilista, cabeleireira, informática ou jardineira.
Eu acho que eles ficariam contentes
de ver os seus antigos alunos
encaminhados na vida, adultos orientados,
pessoas bem construídas,
são tantas as possibilidades...

Por isso, escola, eu sei,
perfeita nunca serás
e os que vierem depois de mim
continuarão a dizer que és seca, aborrecida, não há tecnologia que te valha
para as vezes que serás maldita e enxovalhada.
Porque nem sempre percebemos,
quando estamos em ti,
o bem que nos queres a nós,
o tanto que precisamos de ti.
“One book, one pen, one teacher can change the world”, disse a a Malala um dia. É tão pouco o necessário para tornar a escola em alegria.
Espaço onde os sonhos se começam a traçar,
quero-te como companheira,
quero-te como amiga.
Acima de tudo, quero-te, escola, como rumo de vida!

 

3º LUGARBeatriz Grácio – Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes

Último Capítulo: Voltaste

Era um daqueles dias em que, quando acordamos, nos lembramos de todas as inconveniências que há na nossa vida. Assim que abri os olhos, naquela manhã, voltei a fechá-los imediatamente. Era um dia para o qual não estava preparado. Voltarias para junto da tua mãe, que tinha recuperado bem do acidente de viação e recebido alta hospitalar, e era também a Véspera de Natal, dia que eu detestava há muitos anos. Por isso, além de estar zangado com a tua partida, aborrecia-me igualmente a falta de neurónios que se ocupassem com a fúria natalícia.
̶ Fausto, eu vou levá-la. Vens também? − perguntou a tua avó, depois de se levantar.
̶ Não.
Foi uma resposta precipitada, daquelas que, mesmo sem ter passado pela hesitação, depois nos faz pensar muito.
Passado um tempo, levantei-me. E apercebi-me de que já não estavas lá. E de como enchias a casa, agora vazia e estranha. Depois de tomar o pequeno-almoço, a fechadura da porta rodou. E eu considerei, num rápido e curto instante, que pudesses ser tu, a voltar. E seguiu-se outromomento em que o meu cérebro questionou a razão dessa possibilidade tão tola, a qual foi imediatamente desculpada: se voltasses, era provada, em definitivo, a irresponsabilidade da tua mãe. Seria eu o dono da razão, por ela não ter conseguido ficar contigo.
Mas não voltaste. Era só a tua avó, claro. Havia mil perguntas que lhe queria fazer: como estava a tua mãe, como e onde estavas tu, se alguma vez voltarias... Fiquei calado e passei o dia sem saber nada, mas sempre a magicar o que te podia estar a acontecer naqueles momentos. Tantas vezes pensei em ti, nesse dia, que o meu cérebro ficou exausto de procurar razões sem fundamento para desculpar o facto de gostar de ti. Já não era mais capaz.
Foi a Véspera de Natal que mais me torturou, sem dúvida alguma. Durante todo o dia tentei ocupar a cabeça, mas ela já estava tão cheia de saudades tuas que nada a conseguia entreter. Mas, a certa altura, o telefone tocou, e a tua avó correu até mim.
− É a Mar..., a Catarina. Ela precisa de falar contigo.
− Não falo com a Margarida.
Foi, novamente, uma resposta precipitada, mas que me fez pensar. Impaciente, a tua avó colocou depressa o telefone no meu ouvido.
− Avô!
Era a tua voz, que me deixou com uma estranha sensação de ardor no nariz, aquela que temos quando estamos prestes a chorar.
– Eu não quero fazer os trabalhos de férias. É Natal! A mãe está a mandar-me fazer porque eu não os fiz na tua casa!
Eu não disse nada por uns segundos, porque sabia que, se falasse, a voz ia sair embargada.
− Tens de os fazer, Catarina. É importante.
− Importante para quê? Para a professora não ralhar comigo? Ela nunca ralha, avô. Então, não faz mal!
− Faz, sim. Sabes porquê? Porque os trabalhos de casa não servem para a professora não ralhar contigo, mas sim para aprenderes. E na escola aprendem-se coisas das quais vais precisar para toda a vida! Algumas nem são aprendidas nas aulas, mas a escola forma quem tu és. Um dia, vais tornar-te numa mulher sábia, bem-sucedida, pelas coisas que aprendeste na escola. Todas as grandes pessoas gostam de aprender, Catarina. E sei que tu és uma grande pessoa e que vais aprender muito.
− Não vou, avô! A escola não tem nada a ver comigo! É muito difícil...
− Eu sei. Também já andei na escola e nem sempre gostava das coisas que lá ensinavam. Sei que, às vezes, pode parecer que não somos capazes, porque as matérias são complicadas e temos de nos esforçar muito. Mas também sei, com toda a certeza, que tu consegues. Está bem? Nunca duvides disso e acredita sempre em ti. Tenta. Prometo que vais aprender coisas que gostas mais, depois.
− Vou tentar − respondeste, com voz de quem estava a sorrir.

Desliguei rápido o telefone. Não havia dia em que não me deixasses a refletir. E, mesmo naquela Véspera de Natal, conseguiste entreter-me. Passei o resto da tarde a trabalhar numa crónica sobre os meus tempos de escola, que me trouxe imensas memórias felizes. Naquela tarde, fui capaz de me abstrair.
− Fausto,− chama a tua avó, numa voz clara e paciente − vem ao menos jantar. Eu sei que não é um jantar de Natal, mas quis fazer, no mínimo, comida adequada à ocasião. Bacalhau.
Eu olhei para ela e para a refeição de aspeto maravilhoso: caldo verde, bacalhau com salada de tomate, batatas, brócolos e azeite reluzente. Até havia mousse de chocolate para a sobremesa.
− Eu fiz tudo de boa vontade! Se não comes tu, como eu! Nada te satisfaz, homem! Parece que...
− Quem te disse que não comia?
Ambos sorrimos, mas o jantar foi um tanto triste. Nenhum de nós se abriu, mas também não escondemos o quanto sentíamos a tua falta. Depois, sentámo-nos no sofá a tentar prestar atenção à novela. O relógio marcava as onze horas quando saímos do sofá para nos irmos deitar. Mas, antes de chegarmos ao quarto, a campainha tocou. E a própria campainha parecia saber que rasgava o silêncio, parecia tocar de forma mais alta e impactante. Eu e a tua avó encarámo- nos, mas foi num rápido segundo, porque ela logo correu a abrir a porta.
Quando esta se abriu, os meus olhos não conseguiam processar o que viam. Com tamanha informação para decompor, a primeira coisa que consegui assimilar foi a chuva torrencial, na qual eu e a tua avó nem tínhamos reparado antes.
− Mãe, desculpa. Desculpem. Mas a Catarina vai ter de ficar aqui esta noite. Ele... ele...
A tua mãe parecia não conseguir concluir. A chuva torrencial não se comparava ao rio de lágrimas que lhe escorria pela cara.
− Ele o quê, filha? Conta-nos tudo com calma – falava tranquilamente a tua avó. − Os médicos, mãe... Os médicos... Eles dizem...
− Fala, filha. Disseram o quê?
− Que ele vai... Vai morrer, mãe!
Eu ouvia tudo o que era dito, mas nada me entrava na cabeça. Nem tinha tido tempo para processar quem seria o “ele”, mas, quando me dei conta, nem assim consegui assimilar. Procurei, contudo, instalar a calma.
− Ela fica cá, filha. Nós conseguimos, não te preocupes. Vai descansada.
A tua mãe correu para os meus braços como já não fazia há muito, e tu decidiste fazer o mesmo.
− Ficas connosco esta noite, Catarina. Não te preocupes que amanhã a mamã volta.
− Mas, avô, o pai volta amanhã também?
O maior erro que se podia cometer contigo era achar que tu não compreendias uma situação. Sabias sempre o que se passava.
− Não sei, mas vamos ver. Lembra-te do que disse ao telefone: tu és uma grande pessoa e vais conseguir aprender. Às vezes, a escola é tão importante que passa a ser a nossa vida, e a nossa vida ensina-nos tanto que passa a ser a nossa escola.
Propus à tua mãe que se fosse embora e voltasse no dia seguinte, facto com o qual a tua avó concordou, assentindo com a cabeça, já bastante emocionada.
E assim foi. Na manhã seguinte, eu e a avó despertámos cedo, às seis, ambos preocupados. A tua mãe não dava notícias, desde a noite anterior, e não soubemos nada dela até às oito, quando a campainha voltou a tocar. Eu, a avó e tu corremos para a porta. Novamente, estava a tua mãe lavada em lágrimas e com a voz muito embargada.
− Mãe, pai... Quero apresentar-vos o Luís, o pai da Catarina.
Aí aconteceu um dos momentos que me fez sentir uma realização suprema da vida. Correste para os braços do teu pai, ele abraçou-te também. Beijaste-o, ele beijou-te também. Disseste que tinhas sentido a sua falta, ele disse que tinha sentido a tua falta também. E tu, cheia daquele amor, nunca tiveste tempo para ver que ele já não tinha uma perna. E ninguém prestaria atenção a nada mais, porque mostrarmos que amamos é sempre mais importante.

− Olá, Luís. Sou o Fausto, o pai da Margarida. Queria agradecer. Por tudo. Tens uma filha maravilhosa e uma companheira à qual devias mostrar gigante gratidão todos os dias. Não as percas. É sem dúvida o erro de que mais me arrependo. Espero não te perder a ti, porque acredito que nos daremos bem.
A tua avó partiu de imediato para um abraço coletivo. Esse abraço foi a coisa da qual mais falta senti neste mês, Catarina. Depois de tanto tempo sem te ver, vou finalmente poder abraçar-te de novo. E esse é o motivo pelo qual eu me sinto mais grato nesta vida. Por este teste negativo, que chegou depois de quatro penosas semanas isolado do mundo. E, quando fores mais velha e poderes ler isto, espero que sintas que consegui dizer que te amo todos os dias.